Morar sozinho

03 de fevereiro de 2021

O que ninguém te conta sobre morar sozinho é que quando você esquece a toalha, não há ninguém para buscar. Por vezes, você acaba a esquecendo na varanda. E acreditem, não é fácil ser furtivo quando se está molhado. Portanto, a dica que eu lhe daria não seria muito diferente do Guia do Mochileiro das Galáxias: carregue sempre uma toalha

Outro detalhe relevante é que se você vai dormir e por ventura deixa um copo sujo na pia, amanhã ele estará lá. Não que eu fosse o tipo de filho que deixava tudo para os pais resolverem, mas o copo estar lá sujo no dia seguinte não era uma verdade absoluta. Meu pai o lavaria? Secaria? Guardaria? Ninguém sabe. Porém, morando sozinho, existe uma certeza: ele estará lá.

Um conselho que eu gostaria de ter ouvido, lá em 2018, é que não basta o lugar ser arejado, ter tomada de três pinos e ser próximo ao metrô. É preciso, também, verificar se há infiltrações. Eu convivi um bom tempo com uma goteira, exatamente em cima do suporte de papel higiênico, por pura ingenuidade. Foi assim que usei lenço umedecido pela primeira vez.

E tomem cuidado: se o corretor disser que é o bairro que mais cresce na cidade, ele pode estar falando a verdade. Em dois anos vi nascerem seis prédios e, além da vista, perdi também um bom tempo limpando poeira de construção.

Você também vai precisar de plantas. Não tem como ter assunto com outra pessoa que mora sozinha se você não tiver uma. Assim como cachorros, plantas também bebem água, mas infelizmente elas não irão até sua privada. Isso pode ser um impeditivo caso você planeje uma viagem longa, a não ser que você tenha um goteira.

Conclusão: é uma experiência que eu recomendo a todos. Após três meses dormindo sozinho eu perdi o medo de ser abduzido no meio da noite, embora ainda não me atreva a terminar de assistir Arquivo X.


Escrito por Alan Cesar, engenheiro de software, fotógrafo de planta e músico frustrado. Também estou no Twitter e Instagram.

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